Imagine caminhar pela região central de Guarapuava e, em poucos metros, ver lado a lado quadros pintados por presos, robôs antibombas, animais silvestres empalhados usados em educação ambiental, equipamentos de perícia criminal, viaturas e mangueiras dos bombeiros, armamentos de operações especiais e parte da banda da Polícia Militar.
Foi esse cenário que a reportagem do Atento News encontrou no último dia 7, em frente à Prefeitura de Guarapuava, durante o lançamento da Operação Sinergia. Agora, a gente volta a esse dia para mostrar, com mais calma e em detalhes, o que vimos por lá, não apenas sobre a operação, mas sobre a oportunidade rara de conhecer de perto o trabalho das principais forças de segurança do Paraná reunidas num único espaço.
Em cada estande, uma história, uma missão e, principalmente, gente que lida diariamente com momentos limite da sociedade, mas que ali estava aberta a explicar, demonstrar e aproximar esse universo da população.
Os vídeos estão distribuídos ao longo do texto.
Assista à reportagem completa.
Arte atrás das grades: telas, crochê e ressocialização na Polícia Penal

O passeio começou pela Polícia Penal, com um choque positivo: logo na entrada, uma verdadeira galeria de arte montada com quadros produzidos por pessoas privadas de liberdade (PPL) da Cadeia Pública de Laranjeiras do Sul.
Quadros que retratam cenas bíblicas, paisagens como as Cataratas do Iguaçu, rostos marcantes — de um menino chorando, de uma indígena, de Albert Einstein — e até a icônica Monalisa, reinterpretada no olhar de quem hoje cumpre pena, mas com um talento estimulado.
A policial penal Abilene Stefanoski contou que o artesanato surgiu como alternativa em uma unidade com poucas oportunidades de trabalho:
“O artesanato se tornou uma possibilidade para esses PPLs porque eles não precisariam necessariamente sair das celas para a produção. Muitos mostravam aptidão, especialmente para o amigurumi, para o crochê.”
A pintura em tela nasceu a partir de um interno que fazia desenhos a lápis para outros presos. Eles desafiaram esse detento a produzir uma tela, e o resultado surpreendeu:
“Nesse contexto ele acabou fazendo umas quatro, cinco telas. Mostramos para uma professora especialista na área, ela ficou encantada e começou a trabalhar com eles de maneira voluntária, uma vez por semana”, relatou Abilene.
Hoje, três internos participam do projeto de pintura, que já soma mais de 50 telas produzidas em cerca de nove meses. E a transformação não é só artística:
“Um deles era semi-analfabeto. Bastava alguém enxergar esse dom e dar oportunidade. A gente busca isso: resgatar através da educação, da religião, da arte e do trabalho”, explicou.
Além das telas, o estande exibia bonecos de crochê (amigurumis), toucas, cachecóis e outros itens produzidos em parceria com os Conselhos da Comunidade de Laranjeiras do Sul e Palmital.
O material é patrocinado pelos conselhos, e a contrapartida da Polícia Penal é social:
“Já destinamos mais de cem touquinhas e cachecóis para lares de idosos, casas de acolhimento infantil e, no Dia das Crianças, entregamos mais de cem brinquedos nos hospitais”, contou Abilene.
As tintas usadas na pintura ainda dependem de doações. Por isso, o coordenador regional da Polícia Penal, Marlon Rafael Picioni, fez um apelo:
“A comunidade pode ajudar através de doações. Tudo isso que está sendo apresentado, com exceção dos amigurumis, é fruto de doação. A pessoa pode procurar a cadeia pública de Laranjeiras do Sul ou a nossa sede administrativa em Guarapuava. A comunidade que ajuda hoje é a mesma que, no futuro, vai receber esse PPL ressocializado e pronto para viver em sociedade.”
Assista:
BOPE e esquadrão antibombas: negociação, tecnologia e preparo para crises

Poucos metros adiante, o estande da Polícia Militar chamava atenção pelos armamentos, equipamentos táticos e principalmente pelos itens do BOPE — o Batalhão de Operações Policiais Especiais, que reúne as equipes de COE, antibombas e negociação.
O cabo Joel Soares explicou que o BOPE atua tanto em Curitiba quanto em todo o interior do Estado:
“Nós atuamos em Curitiba, região metropolitana e interior também. Qualquer situação que tenha de crise, como nós chamamos, nós atuamos.”
Entre os equipamentos apresentados estavam fuzis, escudos, capacetes e um aparelho curioso: o telefone de arremesso, usado pela equipe de negociação.
“Ele é literalmente para ser arremessado dentro do ponto crítico onde aquele indivíduo se encontra. A gente sempre tenta trabalhar o face a face, mas quando a pessoa não quer conversar, usamos esse equipamento para garantir a comunicação”, explicou o cabo Joel.
Na mesma estrutura, o soldado Kruk apresentava o trabalho do esquadrão antibombas. Ao lado dele, um robô antibombas e um raio X portátil chamavam a atenção do público:
“O robô faz a remoção de um objeto suspeito e também a captação de imagens. Com o raio X, a gente tira uma imagem e visualiza o interior do objeto para decidir qual medida vai ser tomada”, detalhou.
Para atuar nessa área, o caminho é longo:
“A gente passa por treinamento de três meses, depois de um concurso interno com etapas psicológica, intelectual, física e pesquisa funcional. Só então o policial vai a campo”, explicou o soldado, que está há dois anos no esquadrão.
Assista:
Polícia Ambiental: bichos empalhados, piracema e o alerta contra crimes ambientais

No estande do Batalhão de Polícia Ambiental, quem chegava dava de cara com tatus, aves, mamíferos e outros animais empalhados, cuidadosamente posicionados sobre a mesa.
A 3ª sargento Etienne Renaut explicou que a maior parte dos animais pertence à fauna local e foi obtida legalmente, em situações diversas:
“A maioria faz parte da nossa região. Alguns foram apreendidos com caçadores já mortos, outros atropelados. Depois passam por um processo de taxidermia para serem usados em educação ambiental.”
O objetivo é mostrar o que a maioria das crianças e até adultos já não vê mais na natureza:
“É uma forma de mostrar a importância da preservação, porque muitos desses animais a gente não vê mais. Se não preservarmos hoje, daqui a um tempo as pessoas nem vão saber o que são esses bichos.”
Etienne reforçou que capturar, manter em cativeiro ou caçar esses animais é crime:
“São espécies nativas. Tanto a caça quanto manter em casa é crime ambiental. A pessoa vai responder processo e ser multada.”
Ela lembrou também o período da piracema, quando a pesca é restrita para proteger os peixes em época de reprodução, e mostrou armadilhas e redes apreendidas em fiscalizações:
“Hoje nós não vemos mais muitos animais na natureza. Preservar é garantir que as futuras gerações possam conhecer essa fauna.”
Assista:
Polícia Científica: digitais, luz forense, projéteis e o “crime que não é perfeito”

No estande da Polícia Científica do Paraná, a sensação era de estar dentro de um laboratório de série policial. Sobre a mesa, kits de coleta de digitais, cartuchos, projéteis, amostras de solo, um drone e uma lanterna forense.
A perita criminal Juliana Gouveia, chefe da unidade de Guarapuava, mostrou como funciona o kit de papiloscopia:
“Esse pó magnético adere à gordura e à umidade da digital. Só de encostar o pincel, a impressão aparece limpa, sem espalhar o pó.”
Ela resumiu um conceito central da perícia:
“Todo contato deixa uma marca. Não tem como cometer algo sem deixar pelo menos um vestígio.”
Juliana também mostrou um crânio, usado para representar casos de medicina legal e homicídios, e um bloco de sabão onde se via a trajetória de um projétil:
“A entrada é pequena, mas à medida que o projétil avança, a energia liberada aumenta o dano e a cavidade, algo que a gente analisa em laudos para explicar a dinâmica do fato.”
Outro destaque foi a lanterna forense, que, combinada com filtros especiais, permite visualizar manchas invisíveis a olho nu, como saliva e sêmen.
Em outra parte da mesa, amostras de solos diferentes mostravam como a comparação pode ligar um veículo a um local de crime: às vezes um simples resquício de terra no carro ajuda a comprovar que ele esteve em determinada estrada ou área de desova.
Assista:
Papiloscopista: a digital que liga o suspeito à cena do crime

Ainda na área da Polícia Civil, o papiloscopista Gustavo Alves detalhou o trabalho específico da papiloscopia.
“Quando o suspeito coloca a mão em alguma superfície, usamos pós específicos que impregnam na gordura e umidade da digital. Depois registramos isso em foto ou suporte, escaneamos e enviamos ao software. A máquina sugere possibilidades, mas quem confirma é sempre o papiloscopista.”
Além dos locais de crime, a equipe também atua na identificação de presos no flagrante e de cadáveres não identificados, em parceria com o IML, para permitir a liberação para as famílias.
Gustavo explicou que para ingressar na carreira é necessário ter curso superior em qualquer área e passar em concurso específico para papiloscopista. Ele está há dois anos na função:
“É um trabalho técnico, mas muito gratificante. A gente sabe que, sem a prova da digital, muita investigação ficaria sem resposta.”
Assista:
Bombeiros: quando uma das “armas de trabalho” é água

No estande do Corpo de Bombeiros, roupas especiais usadas em incêndios, capacetes, ferramentas de desencarceramento, mangueiras, viaturas e um kit para incêndio florestal estavam expostos.
O tenente-coronel Jorge Augusto Ramos, comandante do 12º Batalhão do Corpo de Bombeiros, explicou que o objetivo era aproximar o público dos equipamentos que normalmente só aparecem em situações de emergência:
“No dia a dia, esse material fica escondido nas viaturas. Hoje as pessoas podem ver, tocar, entender para que serve cada peça.”
Ele brincou ao mencionar o kit de combate a incêndio florestal instalado numa caminhonete:
“É a nossa ‘arma de trabalho’ que a gente entrega para a criança usar, porque só sai água.”
Com 28 anos de carreira, o comandante resumiu assim a essência da profissão:
“Às vezes, no momento mais escuro da vida de alguém, é o bombeiro que está ali do lado, junto com o pessoal da enfermagem, médicos, SAMU. É a hora em que a gente está brigando contra a morte, a favor da vida.”
Assista:
COPE: operações especiais contra assaltos e crime organizado

O COPE (Centro de Operações Policiais Especiais), unidade de elite da Polícia Civil, também marcou presença.
A agente de Polícia Judiciária Carla de Cássia explicou que o COPE é responsável por casos de grande complexidade:
“O COPE cuida de assalto a banco, assalto a joalheria e é uma unidade de apoio. Atendemos delegacias de todo o Estado quando necessário, além de atuar em situações de crime organizado.”
No estande, o público podia ver escudos balísticos, fuzis, espingardas, lançador de granadas, capacetes e outros materiais usados nas ações.
Com doze anos de polícia, sendo quase dez no COPE, Carla contou que a escolha pela área operacional é vocação:
“Meus pais são policiais rodoviários federais. Meu sonho sempre foi ser operacional. Hoje estou na unidade em que me realizo e amo o que faço.”
Assista:
Banda da PM: a trilha sonora dos eventos oficiais

Entre um estande e outro, o som da Banda da Polícia Militar do Paraná também fazia parte do clima do evento.
O capitão Jeferson Cardoso, maestro da banda, explicou que o grupo é uma unidade oficial da PM, com 169 anos de história e cerca de 50 músicos, divididos em formações diferentes:
“A banda faz, em média, 30 serviços por mês, entre eventos governamentais, institucionais e apresentações nas cidades.”
No repertório, músicas que vão de hinos oficiais a arranjos populares, sempre com o objetivo de aproximar a instituição da população.
Assista:
Por William Batista e Cleo Ferreira