Atento News esteve na cidade, em parceria com a TV Tarobá, e ouviu empresários, trabalhadores e autoridades sobre os impactos da medida que ameaça o setor madeireiro
Por William Batista
A equipe do Atento News esteve em Bituruna, no sul do estado, em parceria com a TV Tarobá, para mostrar, de perto, os reflexos da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros de madeira. O material foi produzido para o Jornal Tarobá e também exibido em rede nacional no Jornal da Band.
O cenário encontrado é de apreensão e incerteza. A prefeitura estima que mais de mil trabalhadores possam perder o emprego nas próximas semanas. Segundo dados oficiais, 87% da atividade econômica de Bituruna está ligada à indústria madeireira.
Trabalhadores em alerta
Em uma das maiores madeireiras da cidade, Hermes Henrique Toledo, operador de máquinas há 13 anos, descreveu o clima no chão de fábrica:
“A gente pensa no amanhã, no depois da manhã… e a gente se preocupa. Tem família, filho, mulher, mãe, pai, todo mundo depende daqui. Jamais a gente pensou que uma medida lá nos Estados Unidos fosse afetar diretamente a nossa vida.”
O operador de empilhadeira Geraldi Dukzinsk Schefer também teme os próximos meses:
“Se acabar faltando a exportação, pra nós vai faltar emprego, porque querendo ou não, os empresários vão acabar fazendo corte e gasto.”
Produção comprometida e estoques parados
A madeireira onde Hermes e Geraldi trabalham tem 25 anos de atuação e fabrica portas e compensados. Metade da produção é exportada, quase toda para o mercado norte-americano.
Segundo o empresário Rogério Dalgallo, a crise já compromete o faturamento e levou à suspensão de parte das atividades.
“Hoje a gente tá com 340 funcionários, 70 em férias. Já ocorreu dispensa de alguns que estavam na experiência e agora vamos rodar mais 100 funcionários na virada do mês. Depois disso, a gente não sabe, é uma incógnita. É uma situação bastante difícil.”
No pátio da empresa, uma carga de compensados avaliada em cerca de R$ 1,8 milhão permanece parada, sem previsão de embarque para os Estados Unidos.
Efeito em cadeia
O gerente geral da empresa, Erverton Luis Chiarello, alerta que o problema vai além das fábricas:
“Todos os funcionários, a maioria, têm familiares que trabalham junto na empresa. E acabam não tendo certeza de como vai estar o futuro deles. Precisávamos ter um norte diferente, um apoio diferente.”
Para o superintendente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), João Arthur Mohr, a crise afeta toda a economia local.
“Não só o trabalhador direto, mas o dono do caminhão, o borracheiro, a lanchonete, o comércio… todos dependem desse setor. Bituruna, por exemplo, mais de 80% dos trabalhadores da indústria trabalham na madeira e essa indústria exporta pros Estados Unidos. Sem reduzir a taxação, a situação vai se agravar.”
Prefeitura teme colapso social

O prefeito Rodrigo Rossoni afirma que a cidade não tem estrutura para lidar com o desemprego em larga escala.
“Com esse tarifaço, nós deixamos de ser competitivos e muitas pessoas vão ficar desempregadas. Hoje já temos indústrias paradas, muita gente de férias e logo logo o desemprego vai chegar. É uma pena que isso não foi uma decisão do empreendedor ou do trabalhador, mas sim uma falta de diálogo entre os governos.”
Solução precisa ser diplomática
A Fiep avalia que as medidas já anunciadas pelos governos estadual e federal são paliativas.
“Essas ações dão um fôlego de duas semanas. Mas não existe mercado que absorva, de forma imediata, 600 milhões de dólares em vendas que hoje vão para os Estados Unidos. É fundamental sentar à mesa e negociar a redução ou eliminação dessa taxação”, reforça João Arthur Mohr.
Enquanto negociações não avançam, Bituruna, que tem pouco mais de 15,5 mil habitantes, segue em compasso de espera, com fábricas operando parcialmente e trabalhadores sem saber o que esperar dos próximos meses.