Sentada sobre o que restou da casa onde viveu por anos, Márcia Iracema de Moraes apoia o rosto entre as mãos. À volta dela, o chão é um amontoado de pedaços de telha, ferros retorcidos e lembranças que agora se misturam a escombros.
A antiga cozinheira, hoje cuidadora da mãe de 81 anos, ainda tenta entender o que aconteceu na tarde de sexta-feira (7), quando o tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu destruiu a cidade e levou consigo parte de sua história.
“No momento eu não estava em casa. Eu estava em Laranjeiras, mas o meu menino tava aqui. Ele se machucou um pouco. A minha irmã também, que era acamada. A minha mãe, de oitenta e um anos, se feriu. Eles estão os três no hospital”, contou, com a voz embargada.
Entre pausas longas e lágrimas contidas, ela recorda o instante em que soube que o filho estava entre os sobreviventes.
“O meu choque de hoje foi saber que eu tava lá e meu filho tava aqui debaixo. Mas ele conseguiu sair e pedir socorro. É muito triste, a gente nem sabe o que falar num momento desse. Única coisa que tô chorando é de felicidade. De gratidão a Deus pela vida de todos.”
A fé, ela diz, é o que tem sustentado o pouco que restou.
“Nesse momento, a prioridade está sendo o valor da vida. Nós não somos nada, né? Um sopro, um ventinho acaba com tudo. Mas Deus vai dar coragem. A gente vai conseguir.”
Ao fundo, vizinhos recolhem móveis partidos, colchões rasgados e retratos molhados. É a rotina de quem perdeu tudo, menos a esperança.
A tragédia, que deixou seis mortos e mais de 750 feridos, transformou a paisagem e o silêncio de Rio Bonito do Iguaçu. Mas entre os escombros, histórias como a de Iracema mostram que, mesmo diante do incerto, ainda há quem escolha agradecer.
Por William Batista